Ferromodelismo, uma brincadeira de gente grande

Por Adriana Leite || Correio Popular de Campinas


O som do trem cortando os trilhos lembra os tempos áureos em que Campinas era um dos principais entroncamentos ferroviários do País. O vaivém de locomotivas e vagões na antiga Estação da Companhia Paulista, hoje Estação Cultura, em décadas passadas, pode ser revivido em uma maquete que ocupa uma área de quase 70 metros quadrados. O ferromodelismo traz de volta as viagens de trens em cenários que lembram muito as ferrovias que cortam a região. No dia 20 deste mês, a Associação de Modelismo Ferroviário de Campinas (Amfec) realiza o 5º Encontro de Ferromodelismo de Campinas que deve atrair 4 mil pessoas e vai reunir dez maquetes.

As ferrovias sempre foram vetores de desenvolvimento no País e o encanto dos trens fascina adultos e crianças. O encontro, além de mostrar a arte do ferromodelismo, também fará um resgate do importante papel do meio de transporte que hoje no Brasil é mais usado para levar cargas do que de passageiros. Há muita discussão para a retomada do uso das ferrovias no transporte de passageiros, como o trem regional que ligaria a região de Campinas e a São Paulo.

Enquanto os trens de verdade não voltam a levar passageiros aqui na região de Campinas, os apaixonados pelo ferromodelismo podem se divertir com as pequenas máquinas que viajam nas maquetes. No caminho, cidades, fábricas, vilas, pontes, túneis, montanhas, estações e oficinas de manutenção. Quem quiser começar a sua própria aventura, terá à disposição, no encontro do próximo dia 20, lojistas que comercializam diversos produtos do ferromodelismo.

O engenheiro civil e membro da Amfec, Foster Moz, afirma que os visitantes vão encontrar raridades e também as novidades. “Teremos pelo menos dez maquetes de diferentes tamanhos por onde vão viajar réplicas de trens mais antigos como as marias-fumaça até as modernas composições que são encontradas em ferrovias do mundo. O transporte ferroviário foi muito importante para o desenvolvimento econômico do Interior. Muitas cidades surgiram a partir da chegada das ferrovias”, conta.

Ele comenta que, atualmente, apenas algumas regiões metropolitanas ainda têm transporte de passageiros sobre trilhos por meio de metrôs, trens de subúrbio e Veículos Leves sobre Trilhos (VLT). “Fora esses sistemas, o País tem o trem operado pela Vale (Trem de Passageiro Estrada de Ferro Vitória a Minas) que liga Belo Horizonte (Minas Gerais) e Vitória (Espírito Santo). A companhia também tem um trem (Trem de Passageiros da Estrada de Ferro Carajás) entre Parauapebas (Pará) até São Luís (Maranhão)”, comenta o engenheiro, que ressalta o debate travado agora pelo governo estadual sobre o trem que ligará a Capital paulista e a região de Campinas.

Paixão

Maquete com 70 metros quadrados na Estação Cultura relembra antigo cenário das ferrovias

Moz diz que desde pequeno gosta dos trens. “Me lembro que tinha cinco ou seis anos e me apaixonei pelos trens que o meu primo tinha lá em Americana. Em 1980, quando estava estudando engenharia, tive contato com um engenheiro que fazia maquetes. Foi nessa época que comecei no ferromodelismo”, comenta. Hoje, ele tem seis locomotivas, 20 carros de passageiros e 40 vagões de carga. “Atualmente, estou sem nenhuma maquete em casa. Mas já fiz muitas. Cuido da maquete que está aqui na Estação Cultura”, conta.

A Amfec tem uma parceria com o governo municipal que cede um espaço na estação para que a entidade desenvolva as atividades. Em contrapartida, aos sábados, os visitantes podem conferir o funcionamento dos trens que viajam pela maquete. “A maquete tem duas linhas com 85 metros cada. Existem 300 metros de trilhos assentados. A maquete é dividida em setores com estação central, que é uma réplica da estação de Milwaukee nos Estados Unidos; Carlos Gomes; Helvetia; Boa Vista; e Paulínia, que conta até com a Replan”, detalha, lembrando que o visitante também será informado sobre a história das ferrovias e a importância delas para a região de Campinas. A visita ocorre aos sábados das 9h às 17h, na Estação Cultura. Durante a semana, também é possível ir até o local, mas é necessário agendar com antecedência.

Evento

Área do sítio ferroviária na região da Estação Cultura, em Campinas, que já foi um importante entroncamento

O engenheiro afirma que o encontro cresce ano a ano. “Na primeira edição, tivemos 2.500 visitantes. Esperamos 4 mil visitantes neste ano”, diz. O especialista afirma que quem quiser começar no modelismo ferroviário tem à disposição no mercado uma gama grande de produtos. “Há kits com uma locomotiva e três vagões que são comercializados para quem está começando no ferromodelismo. Também há o conjunto de trilhos. Acredito que hoje com R$ 400,00 a R$ 500,00 é possível começar. O segundo passo é comprar uma folha de madeirite e montar a maquete”, diz. Ele comenta que não há limites para a imaginação no momento de criar a rota das composições.

Serviço:

5º Encontro de Ferromodelismo de Campinas
Quando: 20 de maio
Onde: Estação Cultura, que fica na Praça Marechal Floriano Peixoto, s/nº
Horário: 9h às 17h
Entrada: gratuita

Saiba mais:

Os interessados em conhecer mais sobre ferromodelismo e visitar a maquete instalada na Estação Cultura podem entrar em contato pelos telefones (019) 3705-8015 e 3705-8027 (das 8h30 às 12h e das 14h às 17h) e falar com Foster Moz.

Acerca do passeio de maria-fumaça, mais informações estão disponíveis no www.mariafumacacampinas.com.br.

Campinas já teve cinco ferrovias durante ciclo do café

Campinas foi um importante entroncamento de ferrovias. O engenheiro civil, Foster Moz, conta que os trilhos levaram uma das principais riquezas da região: o café. “O traçado das ferrovias que cortam a cidade atendia a necessidade dos fazendeiros. Se observarmos, caminhos levavam para regiões como Sousas, Joaquim Egídio e Barão Geraldo. O poder dos fazendeiros de café era tão grande que eles conseguiram construir com dinheiro próprio duas ferrovias em Campinas. Geralmente, os governos eram os responsáveis pela implantação dos projetos”, afirma.

Moz afirma que a cidade contava com cinco ferrovias: Paulista, Mogiana, Sorocabana, Funilense e Ramal Férreo Campinas. “A Funilense saía do Mercado Municipal e ia até Conchal. O Ramal Férreo ia da Estação Guanabara até Joaquim Egídio e foi uma das estradas bancadas pelos fazendeiros. A Mogiana saía de onde hoje é a Estação Cultura e chegou até a região onde está Brasília. A Paulista passava pela Estação Cultura e se estendia até Itirapina, onde ela abria para dois sentidos: até o Panorama e até a Colômbia. A Sorocabana ia de São Paulo até Maringá, passando por Campinas e região” , afirma.

O especialista assinala que as ferrovias foram fundamentais para o desenvolvimento de Campinas e região. “A cidade foi um dos principais entroncamentos ferroviários do Brasil. Até hoje é possível ver a cruz formada pelo sistema ferroviário. O transporte sobre trilhos ainda é importante na região. Mas hoje o foco é apenas o transporte de cargas”, aponta. Moz lembra que uma das menções de Campinas como Princesa d’Oeste faz jus a riqueza dos barões de café que tiveram a ferrovia como caminho para escoar o produto.

Quem gosta do transporte ferroviário tem uma outra opção de passeio em Campinas: a Maria-Fumaça. O trem sai da Estação Anhumas em Campinas e vai até Jaguariúna. Os passeios são efetuados aos sábados, domingos e feriados. O valor do bilhete para o percurso completo (Campinas a Jaguariúna) é R$ 95,00 (inteira) e R$ 48,00 (meia). A duração é de três horas. Há a opção de trajeto entre as estações Anhumas e Tanquinho, cujos preços são de R$ 75,00 (inteira) e R$ 38,00 (meia). O tempo de viagem é de uma hora e meia. Existem ainda tarifas especiais que podem ser conferidas no site da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) - Regional Campinas. (AL/AAN)


Comentários

Postagens mais visitadas