Ferreomodelismo ganha bastante adeptos


Por Carlãozinho Lemes 

Quando Arthurzinho completou 10 anos de idade, ganhou de presente um conjunto de trens em miniatura e todo mundo próximo a ele achou mais que apropriado que se entusiasmasse a ponto de iniciar um hobby.



Hoje, com 59 anos, o engenheiro eletrônico Arthur Oliveira aumentou sua coleção para 15 locomotivas e 30 vagões, que rodam em duas maquetes incrementadas constantemente por acessórios que sua formação profissional permite projetar, sem limites de criatividade.

Evolução

Essa evolução pode parecer estranha a quem a vê de fora, afinal trata-se de um adulto “brincando de trenzinho”.

Porém, a verdade é que em Campinas, à semelhança de diversas partes do mundo, muitos ferreomodelistas possuem verdadeiros “patrimônios” em casa.

“Os trens sempre fizeram parte da minha vida, pois meu pai e tio trabalharam em ferrovias. Procuro mexer com este hobby diariamente, pois estou sempre desenvolvendo novos circuitos, comprando trens e modificando minhas maquetes”, conta Oliveira.

O ferreomodelismo é um dos hobbies mais antigos do mundo e sua origem remonta ao período em que o transporte ferroviário foi adotado massivamente. As primeiras miniaturas de trens foram fabricadas por volta de 1830, por artesãos alemães. De lá para cá, muita coisa mudou, principalmente no Brasil, onde o transporte de passageiros pelas ferrovias deixou de acontecer, com exceção dos passeios turísticos. Mesmo assim, a paixão de algumas pessoas por esse hobby se intensificou.

Chamar de "maquete" a instalação abrigada na Estação Cultura é até covardia: são 70 metros quadrados e um paisagismo dos mais caprichados

Amfec

Campinas possui até uma entidade dedicada a este hobby, a Amfec (Associação de Modelismo Ferroviário de Campinas). O número exato de adeptos na cidade atualmente é desconhecido, mas o membro da entidade e engenheiro civil Foster Moz, estima que seriam em torno de 400. “Tomo como base o 5º Encontro de Ferreomodelismo de Campinas que realizamos em maio do ano passado, sob patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura, e que atraiu um público de 4 mil pessoas, maravilhadas com as dez maquetes que foram montadas”, calcula Foster Moz. Em 19 de maio, acontecerá o 6º encontro.

Importância

“Expusemos desde réplicas de trens mais antigos como as marias-fumaça até as modernas composições que são encontradas em ferrovias do mundo. O transporte ferroviário foi muito importante para o desenvolvimento econômico do interior. Muitas cidades surgiram a partir da chegada das ferrovias” , observa Moz.

Ele diz que desde pequeno gosta dos trens. “Me lembro que tinha cinco ou seis anos e me apaixonei pelos trens que o meu primo tinha lá em Americana. Em 1980, quando estava estudando engenharia, tive contato com um engenheiro que fazia maquetes. Foi nessa época que comecei no ferromodelismo”, comenta.

Hoje em dia, ele controla trens em sua maquete de 70 metros quadrados montada na Estação Cultura. Atualmente, Foster Moz possui seis locomotivas, 20 carros de passageiros e 40 vagões de carga.

Advogado, médico-cirurgião e novato relatam seus sonhos

O advogado Leandro Nagliate Batista, de 38 anos, tem este hobby desde criança, mas, na época, não tinha condições financeiras para manter uma coleção. "Depois que conheci os produtos da Frateschi, passei a me interessar mais pelo ferreomodelismo e hoje possuo dez locomotivas e 24 vagões. Em breve, pretendo construir uma maquete para colocar os trens pra rodar" , diz. O médico-cirurgião vascular Fábio Hüsemann Menezes, de 55 anos, começou a se interessar pelos trens em 1969, quando fez uma viagem à França com os pais e ganhou um kit de ferreomodelismo.

"Há quase 50 anos mantenho essa paixão pelos modelos de trens e possuo 32 locomotivas e 78 vagões de cargas e passageiros. Tenho um armário-display em casa onde deixo exposta boa parte do meu material ferroviário.

Digitalizei praticamente todas as minhas locomotivas, com exceção das muito antigas e daquelas que têm o motor como parte do chassi e não permitem o isolamento da alimentação dos trilhos", explica. Durante sua adolescência, ele montou uma maquete que foi desmontada e guardada até o final de 2017, quando começou a construir uma nova maquete.

"Meu pai nunca teve um trem elétrico, mas foi um grande incentivador do meu hobby durante minha infância e adolescência. Como tenho somente filhas, e agora elas estão casadas, estou voltando à ativa e consegui um espaço pra construir uma maquete.

Fico na torcida pra que venham netos, pois, com certeza, serão grandes admiradores de ferrovias" , afirma. Enquanto algumas pessoas têm vasta experiência em ferreomodelismo, outras estão iniciando-se neste hobby. É o caso de Marco Antonio Zaguini, que possui um conjunto de trens elétricos e pretende expandir sua coleção. "Quero me dedicar a este hobby com mais afinco a partir de abril, quando terei um espaço maior em meu apartamento pra construção de uma maquete, conclui.

Cultura do café impulsionou entroncamento de ferrovias


Campinas foi um importante entroncamento de ferrovias. Durante o Encontro de Ferromodelismo de Campinas do ano passado, Foster Moz lembrou que os trilhos levaram uma das principais riquezas da região: o café. “O traçado das ferrovias que cortam a cidade atendia à necessidade dos fazendeiros. Se observarmos, caminhos levavam para regiões como Sousas, Joaquim Egídio e Barão Geraldo. O poder dos fazendeiros de café era tão grande que eles conseguiram construir com dinheiro próprio duas ferrovias em Campinas. Geralmente, os governos eram os responsáveis pela implantação dos projetos”, afirmou ele.

Enquanto manobra suas composições, Foster Moz dá inestimáveis lições sobre história campineira sobre trilhos

Moz disse que a cidade contava com cinco ferrovias: Paulista, Mogiana, Sorocabana, Funilense e Ramal Férreo Campinas. “A Funilense saía do Mercado Municipal e ia até Conchal. O Ramal Férreo ia da Estação Guanabara até Joaquim Egídio e foi uma das estradas bancadas pelos fazendeiros. A Mogiana saía de onde hoje é a Estação Cultura e chegou até a região onde está Brasília. A Paulista passava pela Estação Cultura e se estendia até Itirapina, onde ela abria para dois sentidos: até o Panorama e até a Colômbia. A Sorocabana ia de São Paulo até Maringá, passando por Campinas e região”, afirmou.

Ele salientou que as ferrovias foram fundamentais para o desenvolvimento de Campinas e região. “A cidade foi um dos principais entroncamentos ferroviários do Brasil. Até hoje é possível ver a cruz formada pelo sistema ferroviário. O transporte sobre trilhos ainda é importante na região. Mas hoje o foco é apenas o transporte de cargas”, apontou. Moz lembrou que uma das menções de Campinas como “Princesa d’Oeste” faz jus à riqueza dos barões de café que tiveram a ferrovia como caminho para escoar o produto.

Com base em Ribeirão Preto, a Frateschi é a única fabricante na América Latina

Fundada em 1967, a Indústrias Reunidas Frateschi, situada em Ribeirão Preto, é a única fabricante da América Latina de trens elétricos em miniaturas e réplicas de composições reais. Situada em Ribeirão Preto, no interior paulista, tem a missão de divulgar e preservar a memória ferroviária do Brasil, por meio da prática do ferreomodelismo. Há 50 anos neste mercado, a empresa tem a convicção de que importantes relações humanas, como a interação entre pai e filho, avô e neto e amigos, são fortalecidas em momentos descontraídos durante a prática deste hobby.

Com atuação nacional e internacional, a Frateschi possui representantes nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia, Ceará e Pernambuco, além do Distrito Federal. No exterior, seus representantes estão na Argentina, Chile, Uruguai, Austrália, Nova Zelândia, Rússia, Suíça, África do Sul e Taiwan.

Porém, de toda a produção da empresa, 25% dos produtos têm como destino o interior de São Paulo. “As pessoas pensam que o transporte ferroviário morreu, mas ele está vivo e em expansão. A ferrovia é de valor estratégico imprescindível para um país como o Brasil, e este crescimento ajuda a fomentar ainda a mais a paixão que muitos brasileiros têm pelos trens, e muitos passam o hobby do ferreomodelismo para as futuras gerações”, diz Lucas Frateschi, diretor da empresa.

SERVIÇO
6º Encontro de Ferreomodelismo de Campinas
Data: 19 de maio de 2018 (sábado), das 9h às 17h
Local: Estação Cultura (Largo Marechal Floriano, s/nº, Centro, Campinas
Telefones: (19) 3705-8027, 3705-8015 e 3705-8028
E-mail: coordenadoriaestacao@campinas.sp.gov.br
Mesmo fora de eventos oficiais, os interessados podem apreciar a maquete, que fica montada na plataforma da estação, aos sábados, das 9h às 17h.
Escolas e entidades podem agendar visitas guiadas em outros dias da semana e horários, pelos telefones acima.

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